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Onefootball·27 de fevereiro de 2018

Nuno Gomes: Gostaria de ver Alex Telles e Jonas na seleção portuguesa

Imagem do artigo:Nuno Gomes: Gostaria de ver Alex Telles e Jonas na seleção portuguesa

Ex-atacante português coloca o Pistolas como ‘melhor dos últimos anos’ no Benfica e revela que também foi alvo do Vasco.

Ídolo do Benfica e da seleção portuguesa, além de ter no currículo duas temporadas na Fiorentina, Nuno Gomes sempre esteve rodeado por brasileiros. Alguns notáveis, outros nem tanto. Teve também duas oportunidades de jogar no Brasil. Balançou especialmente com uma proposta do Santos, em 2010, mas recusou porque alimentava o sonho de jogar a terceira Copa do Mundo, o que, no fim, acabou por não acontecer.


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Aposentado desde 2013, depois de uma rápida passagem pelo Blackburn Rovers, o ex-atacante de 41 anos deixou recentemente o cargo de diretor da formação (categorias de base) benfiquista, função que exerceu de 2016 a 2017. Enquanto avalia o rumo da carreira, aproveita para se deliciar com Jonas, o Pistolas, aquele que considera o “melhor atacante do Benfica nos últimos anos”, e também Ederson, que “já está entre os três melhores goleiros do mundo”.

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Do passado, guarda boas recordações do amigo Luisão, o “miúdo” cheio de energia nas divididas que precisou levar uma bronca logo nos primeiros dias em Portugal. Nem tão boas recordações surgem quando lembra de Jardel, o maior vilão na briga pela artilharia da liga nacional.

Você atuou ao lado de muitos brasileiros, foi adversário de tantos outros… Qual foi o maior que viu jogar de perto?

Tive a sorte de jogar contra muitos e também de jogar ao lado de bons brasileiros. Joguei com Paulo Nunes, Amaral, Adriano [Imperador], Leandro [Amaral]… Infelizmente não joguei no Benfica com Mozer, Valdo e Ricardo Gomes, que são de uma geração mais velha. Joguei contra um que foi um dos melhores de todos os tempos, o Ronaldo Fenômeno. As qualidades dele eram simplesmente impressionantes, creio que nunca mais vi um jogador como ele naquela posição. Joguei com o Cristiano Ronaldo também, e comparo-os muito, apesar do físico e da questão de posicionamento no campo diferentes. Vi coisas no Cristiano que também vi no Ronaldo. Explosão, dribles em velocidade… Ronaldo foi um dos melhores de todos.

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O Jonas é o maior atacante do Benfica nos últimos anos? Ele acaba por ser um “rival”, visto que você também fez muito sucesso no clube…

A pergunta, aliás, me fez lembrar outro jogador [brasileiro] que tinha qualidades fantásticas, o Roger. Tinha um pé esquerdo fantástico.

Mas o Roger só jogava quando queria…

É, o Roger era só quando queria [risos]. Sobre o Jonas… Costumo dizer para alguns amigos que tenho pena de não ter jogado com o Jonas. Apesar de achar, com as devidas diferenças, que nós pisamos os mesmos terrenos no campo, acho que conseguiríamos jogar juntos. Ficamos deliciados quando vemos o Jonas jogando. Hoje em dia vemos jogadores que tecnicamente não são muito evoluídos, mas que são grandes jogadores porque são fortes fisicamente e aguentam o jogo todo. Agora, quando olhamos para o Jonas, não vemos aquele jogador forte, musculado e que decide por causa da força. Ele decide os jogos porque está sempre no lugar certo ou tecnicamente é diferente dos outros. É um jogador com uma técnica acima da média. Acima de tudo, tem aquilo que está na cabeça dele, que é a inteligência dentro de campo, saber se posicionar, ler bem o jogo…

Fico deliciado ao vê-lo jogar, porque, apesar da sua idade [33 anos], consegue ser o artilheiro do campeonato e fazer o time jogar bem. Portanto, nos últimos anos, talvez ele tenha sido o melhor atacante que passou pelo Benfica, apesar de o clube ter tido outros grandes atacantes, como eu [risos]. Tem ainda o Cardozo, por exemplo, que também deixou uma grande marca aqui, fez muitos gols. Só que o Jonas e o Cardozo são jogadores diferentes, não tem nada a ver um com o outro em termos de qualidade técnica e características físicas. Jonas é, com certeza, um dos melhores jogadores que já passou pelo Benfica. Ainda bem que ele veio, e da maneira que veio ainda por cima. Estamos muito satisfeitos com ele.

Jonas é superior a Jardel e Liedson? Com qual deles você gostaria de ter formado dupla?

[Risos] Dependeria muito de como o treinador fosse armar o time. Creio que conseguiria jogar ou ter jogado com qualquer um dos três, embora todos sejam diferentes. O Jardel foi durante alguns anos o grande culpado por eu nunca ter conseguido ser o artilheiro da Liga. Eu sempre chegava no segundo lugar [risos], enquanto o Jardel era sempre o primeiro. Ele era exatamente isso: gol. Uma bola perdida na área e aparecia o Jardel para fazer o gol, seja de pé esquerdo, pé direito, e de cabeça, então, era fortíssimo. Um cabeceamento do Jardel era meio gol, era quase igual a um chute meu. Ele, de cabeça, conseguia colocar a bola onde queria. Comparando o Jardel com Jonas, em termos técnicos, prefiro o Jonas. Mas aí olhamos para os números do Jardel, é impossível não gostar dele. Um atacante vive de gols e, independentemente se o gol é feio ou bonito, o que conta é a bola dentro da rede.

O Liedson era igual. Era mais móvel, não ficava muito fixo na área à espera de finalizar, também gostava de cair pelos lados e fazia diagonais. Um ataque com esses três, e comigo quatro, daria dor de cabeça a qualquer treinador [risos].

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Você enxerga no Luisão as características ideais para seguir o seu exemplo no Benfica? De trabalhar no clube depois da aposentadoria…

Acho que sim, embora eu não saiba ao certo o que ele vai decidir. Suspeito que o Luisão caminhe para uma carreira mais técnica, mais de treinador. Mas não conversamos sobre isso, não sei se vai ser mesmo isso. Na verdade, também não sei se o Luisão já parou para pensar nisso. Se for como eu, não pensou [risos]. Porque eu sempre quis adiar este pensamento, queria era jogar o máximo de tempo possível. Mas cada um é cada um, e eu não sei exatamente o que passa na cabeça do Luisão. O dia dele vai chegar, assim como chegou o meu. Quem nos dera poder jogar até os 60 anos, e assim eu estaria lá em campo até hoje, a fazer figuras tristes, é claro, mas pelo menos ainda estava lá dentro [risos]. Como disse antes, acho que o Luisão caminhe mais para o lado técnico, e particularmente acho que ele tem características para isso. Mas talvez também faça isso depois de uma experiência como dirigente, eu não sei.

Ele tem uma carreira no Benfica que fala por si só, e acredito que vai receber uma oportunidade para continuar no clube após terminar a carreira. Ele mesmo, aliás, já disse que gostaria de seguir em Portugal. Vejo isso com bons olhos, porque é um jogador que sabe o que é o Benfica. Chegou novo, sempre se dedicou ao máximo e percebeu rapidamente a grandeza do clube. Consegue transmitir tudo isso aos novos jogadores e aos que chegam de fora, sabe muito bem qual é a mística do Benfica.

Tem alguma história em especial com o Luisão? Jogaram muito tempos juntos, ambos com perfil de liderança…

Houve um episódio num treino logo na chegada dele ao Benfica, mais ou menos no período em que ele estava sofrendo algumas críticas. Eu estava numa equipe e ele na outra, um contra o outro, e nos pegamos no treino. Houve ali uma discussão entre nós. Ele estava na minha marcação, e ele nunca facilitava para nada, sempre chegando forte. Recebi uma chegada mais forte, então reagi e disse algo do tipo: “Ei, miúdo [moleque], o que é isso?”. Houve uma discussão mais forte, e naquele treino nós não conversamos mais. No caminho de volta, porque nós treinávamos longe, voltamos a falar um com o outro. A partir daí senti que existia uma ligação entre nós, e ele também sentiu. Somos duas pessoas de personalidade forte. Aliás, é isso que fez e faz dele um líder do Benfica.

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Surpreso com a evolução do Ederson em pouco menos de dois anos? Já está entre os três melhores goleiros do mundo?

Sim, já está entre os três melhores. Pode chegar ao posto de melhor do mundo, e muito por culpa daquilo que eu acho que é o segredo dele: a humildade: Espero, aliás, que isso nunca mude. Ele também tem muito foco no trabalho. Sentiu cedo que nada se consegue sem trabalho, e passou momentos difíceis em Portugal. Só chegou aonde chegou porque teve que trabalhar, manter o foco e, talvez, trabalhar até mais do que os outros. Já chegou num patamar tão alto, e que pode ser ainda maior, porque segue trabalhando da mesma forma.

Ele sabe que não pode parar para descansar na sombra da bananeira. Hoje ele está vivendo o estrelato, o sucesso, mas já conviveu com o insucesso, porque não deu certo no início do Benfica, porque foi emprestado para uma equipe [GD Ribeirão, em 2011/12] que talvez ninguém conhecesse. Mas ele foi, jogou, trabalhou, cresceu e recebeu uma nova oportunidade de jogar no Benfica. Provou que merecia jogar e nunca mais saiu do time.

Foi a criada a mesma expectativa ou até maior em cima do Renato Sanches… Qual a diferença dele para o Ederson?

Talvez a mentalidade, talvez também… Não sei se o Bayern de Munique foi a melhor escolha, entende? Mas isso agora é fácil de falar. Não deu certo, embora eu acredite que ainda dê certo, até mesmo no próprio Bayern de Munique. Apesar de ser um ótimo jogador, de ter sido campeão com o Benfica e da Europa com a seleção, estamos falando de um jogador de apenas 18, 19 anos. Muitas vezes a estrutura abana. Quando o sucesso é de um dia para o outro, as coisas mudam do 8 para o 80. É preciso ter uma estrutura forte, perceber as pessoas que estão no nosso entorno, os amigos que talvez não são amigos… Não sei se foi por aí com o Renato, mas muitas vezes podem acontecer estas coisas.

Em termos técnicos, o Bayern de Munique pode não ter sido o melhor time para ele ter dado sequência. Era uma exigência muito grande, com um elenco muito forte, principalmente no meio-campo, e o Renato pode não ter convivido muito bem com a questão de ser campeão pelo Benfica, campeão com a seleção, e, de repente, se ver sentado na reserva e às vezes nem sequer convocado para os jogos… Talvez não fosse a situação que ele esperava, e, com isso, a confiança acabou por cair. Pode ter sido por aí que o Renato não esteja neste momento no nível em que nós talvez esperássemos. Mas ele não perdeu qualidade, é um excelente jogador, dono de um futuro brilhante pela frente. Acho que com o Carlos Carvalhal, um treinador [do Swansea] que conhece ele bem, o Renato vai voltar pouco a pouco a ser o Renato Sanches que nós conhecemos.

O Benfica tinha condições de rejeitar a proposta do Bayern por achar que o Renato Sanches ainda não estava pronto?

Possível era, mas era difícil para o Benfica recusar a proposta. É preciso achar um equilíbrio, embora seja sempre muito difícil para o Benfica recusar essas propostas, porque às vezes são oportunidades que não voltam a aparecer. No modelo de negócio montado pelo clube, existem negócios que não podem ser desperdiçados. Agora, nesta faixa etária, uns jogadores estão mais preparados do que os outros. Não há um segredo que nos permita dizer quem é que está mesmo preparado ou não.

A ascensão do Renato Sanches foi muito rápida. Lembro-me de tê-lo visto na mesma temporada jogando pelos juniores, duas semanas depois estava no time B, outras duas semanas depois já estava estreando no time principal, quinze dias depois disputando um jogo de Liga dos Campeões, meses depois convocado para defender a seleção, depois campeão da Europa, depois vendido para o Bayern… Num espaço de nove meses tudo mudou. Não é fácil. Nós, hoje, talvez podemos falar: “Ah, se tivesse ficado mais uma temporada no Benfica estaria melhor preparado”. Sim, é verdade. Jogar dois anos consecutivos na liga portuguesa prepara melhor o jogador para outros desafios mais exigentes. Mas a proposta chegou e o Benfica não podia recusar… Hoje o Swansea é uma boa opção para ele. Em geral, no mundo da bola, às vezes é melhor dar um passo para trás para depois dar dois passos para frente.

Houve erro de planejamento no Benfica nesta temporada? Vendeu muito bem, mas contratou no mesmo nível, caiu na Liga dos Campeões com seis derrotas em seis jogos…

Não sei podemos chamar assim. As pessoas que comandam o clube acreditaram que o elenco seria suficiente para atacar as várias frentes. Chamar de “erro de planejamento”? Creio que seja um termo forte e um pouco injusto, no sentido de que não há jogadores iguais. Como fazer para substituir o Ederson? Não vamos achar outro Ederson em qualquer lado, não vamos achar um lateral com as mesmas características ofensivas do Nélson Semedo… Tem ainda o próprio Lindelof, que tem sofrido algumas dificuldades no Manchester United, mas que aqui era titular indiscutível. O Benfica, nos últimos anos, teve a “sorte” de substituir o Maxi Pereira pelo Nélson Semedo, saiu o Oblak, mas logo entrou o Ederson. Os jogadores que ficaram para ocupar as vagas daqueles que saíram agora…

É sempre difícil substituir os jogadores considerados imprescindíveis. O Douglas, por exemplo, ainda não mostrou o verdadeiro Douglas, não jogou muito porque talvez o treinador tenha melhores opções em mente. O próprio Gabigol não deu certo, talvez por causa dos contextos. O futebol não é uma ciência exata. Mas, sim, a campanha na Liga dos Campeões foi fraca, decepcionante, mas acho que não tem a ver com o planejamento. Tem a ver com as circunstâncias dos jogos, teve a sorte que não esteve do nosso lado, a equipe que também não jogou aquilo que estava acostumada a jogar…

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Qual jogador brasileiro criou em você uma expectativa muito em grande em Portugal, mas acabou por não vingar?

Já falei anteriormente do Roger, que tinha um pé esquerdo fantástico, era um jogador que desequilibrava, com visão de jogo, muita inteligência… Mas não era um jogador constante. O Paulo Nunes, por exemplo, chegou num momento errado no Benfica. Conseguiu mostrar um pouco do perfume que tinha, mas a equipe estava passando por um momento complicado, e ele também teve pouco tempo aqui. Gostava muito do Felipe Menezes. Pensei que ele fosse resultar e ter uma carreira diferente no Benfica, mas não resultou. Tinha bons pés. Era um pouco lento, mas sabia jogar. Gostava muito do Sidnei, e gosto ainda, mas no Benfica resultou pouco.

Teve alguma oportunidade de jogar no Brasil?

Tive duas propostas. Tive uma do Vasco, já no meu final de carreira, mas não me lembro ao certo o ano. Teve também uma do Santos, em 2010, um pouco antes da Copa do Mundo. Do Vasco houve um interesse, mas não houve um desenvolvimento mais concreto. Já do Santos foi mais concreto. Fiquei um dia ou dois pensando, e disse “nim”, que é um “sim” e também um “não” [risos]. Fiquei muito confuso, mas no fim decidi ficar no Benfica. Permaneci em Portugal porque neste ano, em 2010, nós tínhamos a Copa na África do Sul. Achei que sair naquela altura dificultaria uma convocação, porque estava sendo chamado uma vez sim, uma vez não, isso porque no Benfica já não estava jogando com regularidade. Cogitei muito o Santos porque a ideia era jogar com mais frequência. Acabei não indo para o Santos e nem sendo convocado para jogar a Copa [risos]. Na mesma altura o Liedson se naturalizou e foi chamado. Não tive a chance, mas gostaria de ter jogado no Brasil. Vasco e Santos são dois clubes com muita história, e o Vasco ainda é dono uma ligação mais forte com Portugal.

Gostaria de ver mais algum jogador brasileiro defendendo a seleção portuguesa?

O Alex Telles é muito bom jogador, mas tanto o Fábio Coentrão como o Raphael Guerreiro dão bem conta do recado [risos]. O Alex Telles é um jogador diferenciado e, com certeza, mais cedo ou mais tarde vai partir para outros voos. Talvez o Jonas também…

Mas o Jonas não pode mais, já defendeu várias vezes a seleção brasileira…

Sim, sim… Mas estou dizendo se pudesse [risos]. É, talvez o Jonas. O Jonas caberia.